Sempre me fez confusão a expressão “vou treinar”. Actualmente é uma expressão super vulgar, eu sei – toda a gente treina –, mas sempre que a ouço, ainda continuo a achar que a pessoa vai participar nalguma competição ou tem um espectáculo de dança para preparar. Mas não, treinar não é necessariamente uma preparação para uma prova ou para uma competição. Nem sequer é aprender. Treinar pode ser só ir dar uma corrida ou fazer ginástica (que também já não se chama ginástica) ou nadar. Basicamente, treinar passou a ser exercitar-se – acho eu, que não percebo nada disso.
Eu nunca fui de ginasticar [e por falar em ginasticar… lembrei-me da “Rua Sésamo” e encontrei isto (que comédia!)]. Na escola, sempre inventei as desculpas mais esfarrapadas do mundo para não fazer Educação Física (um dia não tinha os ténis, no outro tinha-me esquecido do fato de treino, para além de estar com o período uns 20 dias por mês (ahaha), e por aí em diante). Eu era aquela pessoa que estava quase fora do campo a dizer à equipa “não me passem a bola, por favooooor” e a levar com ela na cabeça. Andei em muitas actividades extra – ballet, judo, natação, basquetebol, ténis, dança Jazz,… – mas sempre por pouco tempo (fartava-me rapidamente e os meus pais não eram de forçar). A verdade é que sempre fui uma nódoa em tudo o que metesse corrida, bolas ou coordenação motora e isso tinha alguma influencia, claro. Era das últimas a ser escolhida sempre que o objectivo era formar equipas… Para além disso, correr – a não ser que fosse para fugir de um cão raivoso – nunca esteve nos meus planos. Na adolescência, sempre fui aquela pessoa que se recusou a correr, mesmo que fosse para apanhar o último autocarro do dia (uma parte por vergonha da figura que achava que fazia a correr, sem saber bem onde – ou como – colocar os braços, e outra parte por… detestar correr).
Em grande, acho que já estive inscrita em todos os ginásios do Porto. Atenção que eu digo sempre “já estive inscrita” e não “frequentei”/”andei”, porque… A única vez que fui 1 mês seguido, mesmo todos os dias, foi quando mudei de casa, tive um problema no gás e não tinha água quente para tomar banho… Acho que isto diz tudo. Mas também nunca fui pastelona – como pode parecer pelo que estou a partilhar. Sempre me mexi muito, sempre andei – e ando – super rápido, sempre fui voluntariosa, rápida e despachada.
Sobre as aulas de Yoga, frequentei vários espaços – especialmente quando vivi em Lisboa -, mas não considero que alguma vez tenha praticado a sério ou evoluído, até. Embora goste, acabo sempre por arranjar mais desculpas para não ir do que as vezes que vou.
Há cerca de 1 ano inscrevi-me – por acaso – numa aula (mais uma) que pensava ser de Yoga, mas que se revelou bastante diferente do que eu pensava. Mistura Yoga (posturas, respirações, meditação,…), com artes-marciais, com boxe, com ginástica, com jogos com bolas, com abdominais, com espaldares, com bolas de pilates, com pesos, até com pneus… E nunca é igual. Acho que só não se dança nem nada (porque não há piscina, se não aposto que já tínhamos ido para dentro de água). Sou só eu e o meu marido, o que é espectacular. O que mais me faz ir e não desistir nem me fartar, como dos sítios anteriores, é que todos os dias a aula é uma surpresa, nunca sei se vamos fazer alongamentos ou lutar. Isto já para não falar que o professor é só a pessoa com quem já me cruzei que mais sabe de exercício físico e melhor conhece o corpo e as suas limitações e potencialidades, para além de incluir uma vertente mais espiritual. Não dá para explicar totalmente, só experimentando (quem quiser, posso dar o contacto, a sala dele fica na Baixa do Porto, junto aos Aliados).
Voltando à questão inicial deste post, eu nunca fui de fazer exercício físico de forma formal, embora sempre tenha sido de me mexer. Em parte por preguiça e falta de jeito, ok, mas também porque sempre achei que o exercício devia ser uma coisa natural – ou então um treino, mas dos de antigamente. A minha avó – talvez a pessoa mais saudável física e forte mentalmente que eu conheci – nunca foi para o ginásio. Nem correu, a não ser para não perder o comboio ou o autocarro. Mas fazia diáriamente o trabalho todo de casa sem ajudas. E, para além de não ter empregada, nem empresa de passar-a-ferro, nem nada dessas coisas que muitas delas nem existiam, não tinha máquina de lavar a louça, nem robot de cozinha, nem mil outros electrodomésticos que vieram fazer com que a pessoa quase não mexa mais do que um dedo para os ligar e desligar. A minha avó viveu até aos 90 e tal anos – sempre com saúde e força e músculo. Sem nunca ter andado a treinar (aliás, se lhe dissessem que há pessoas que vão para uma passadeira que não as leva a lado nenhum andar, ou para uma bicicleta que não sai do sítio pedalar, acho que não acreditava). Ela andava a pé para todo o lado, esfregava o chão de casa, baixava-se para apanhar a roupa da bacia que ia estendendo, lavava a louça, tratava da horta, esfregava a roupa no tanque porque a máquina veio tarde e não era usada todas as semanas… Basicamente, em vez de ela estar sentada 8 horas por dia à frente de um computador, deitada outras tantas, no sofá umas 2h, no carro mais 2h e no ginásio 1h por dia, mexia-se quase 16 horas. Ia-se mexendo, aliás. Não se mexia tudo de uma vez zás-zás e depois ficava sentada ou deitada.
Sobre a questão especifica de andar, escrevi há uns meses este post – antes de mudar de vida profissional e de deixar de ter carro. Era chocante o que eu (não) andava a pé. Ainda bem que tomei consciência disso e, para além de ter tido a sorte de deixar de ter carro, passei a fazer por andar mais a pé diariamente. E é mesmo bom andar a pé, não só para o corpo – que tem mesmo de se mexer -, mas também para a mente. Então com tempo disponível, não há melhor.
Para além da questão de andar a pé, todo o nosso corpo precisa de ser exercitado. E está feito para se mexer, não para ficar horas e horas nas mesmas posições… É estranho que o Ser Humano pague uma mensalidade a um ginásio para fazer exercícios que podia fazer gratuitamente em casa, se não pagasse também a uma empregada doméstica para fazer tudo por si. Eu incluída, que não gosto de limpezas a fundo, mas gosto que esteja tudo limpo. Já para não falar nos electrodomésticos que fazem tudo e mais alguma coisa. Qualquer dia inventam um para coordenar os outros todos e é só usar um dedo para carregar nesse, que fará o resto. Se continuarmos assim, não sei onde vamos parar… Há até quem nem o movimento de lavar os dentes com uma escova normal já faça, tendo passado a usar uma eléctrica… O nosso corpo está a ficar ferrugento. Mas não é com o exercício formal que o desenferrujamos, na minha opinião, é com as actividades normais do dia-a-dia, para as quais o Homem está preparado. Só isso, não devia ser nada de especial e ainda por cima é gratuito.
Se observarmos os Seres Vivos que nos são mais próximos, os cães e gatos, reparamos que todos eles, sempre que acordam ou se levantam depois de muito tempo deitados, se espreguiçam. Nenhum se esquece de espreguiçar. Isso faz parte também do exercício natural e cada um de nós beneficiaria se incluísse essa pratica no dia-a-dia, ainda na cama de manhã. Como dizia um professor de saúde natural que tive, usar a cama como uma piscina e alongar todas as partes do corpo antes de sair da cama, dá saúde. E se os observarmos bem, reparamos que nenhum deles tem como que uma bóia em forma de donut à volta da barriga, como nós, humanos temos de gordura. Será da posição sentada? Será da comida? Será do estilo de vida actual?
E, já que estou num modo de reflexão sobre esta temática do treino e da saúde, outra coisa que não está com certeza bem, são os padrões de beleza dos corpos – tanto dos homens, como das mulheres. Há pessoas que trabalham tanto os músculos, que parece que todos os dias têm de carregar sozinhas armários de 100Kg às costas, em prédios de 10 andares, sem elevador… Mas trabalham os músculos, não para força, mas pela aparência da forma. E o que se quer hoje, descobri não há muito tempo e fez-me um bocado de confusão, são rabos maiores (acho que chama “crescer”)… Quando o que se queria quando eu tinha 20 anos, eram rabos pequenos – pelo menos na minha rua.
Os ovos, que até há pouco tempo provocaram colestrol, vêm agora num pacote (já não têm casca, nem gema, são só claras), muitos não biológicos, cheios de hormonas, e comem-se às dezenas por dia. A proteína, que por mais que veja nas redes sociais, ainda não percebi bem para quê e como se usa, não é um alimento normal, é em pó e vem em boiões de plástico de tamanhos impressionantes. Já para não falar no pré-treino, pós-treino, pré-pequeno-almoço, pós-pequeno-almoço, lanche da manhã, lanche da tarde, lanche antes de dormir, e por aí em diante. Não vá a pessoa sentir-se mal se estiver meia hora sem comer… Acho que todos sobreviveríamos – e teríamos sem dúvida mais saúde – se só pudéssemos comer apenas uma ou duas vezes por dia, tivéssemos menos dinheiro para comprar coisas de pacotes e fossemos obrigados a comer menos variedade, menos quantidade e refeições com apenas três ou quarto ingredientes. Hoje em dia, um pequeno-almoço digno de Instagram, leva uns 10 ingredientes no mínimo , e é só um pequeno-almoço. Considero também que se toda a gente do mundo resolvesse comer assim, não havia – como já não há – comida suficiente para todos. É impossível. Por isso, não pode estar certo, pois não? É isso e os 2 ou 5 litros de água que dizem que se deve beber por dia… Sim, deve-se beber muito durante o dia, isto se a alimentação for sintética e processada. Aí sim, é melhor beber-se o máximo de água possível para limpar. Mas se a alimentação for natural, integral e equilibrada, deve-se beber pouco (nos legumes, cereais, sopas, frutas, já tem a água que necessitamos) e só quando se tem sede – a não ser que se tenha aquele problema que o corpo não avisa quando tem sede. Haveria água potável suficiente para todos (Humanos e não-Humanos), se todos bebêssemos essa quantidade? Haveria no paleolítico garrafas de água para o Homem encher e beber de 5 em 5 minutos…? Haverá outro mamífero que force “beber” quando não tem sede?
A mim, tudo isto que escrevi – e que começou com uma reflexão pessoal sobre “treino”, passou para o exercício natural no dia-a-dia, continuou pelos padrões de beleza actuais e terminou com a alimentação, – parece-me por demais evidente. Tão evidente como o Homem estar completamente desconectado da natureza (da sua também, claro). Ao ponto de tudo isto não passar de consequências de um jogo inútil de aparências. E sobre o qual eu passei para aí uma hora sentada, sem me mexer, a escrever. 🙂
Morasse eu no Porto e já andava nessas aulas!
Mas uma coisa que tenho pensado é realmente fazer EXERCÍCIO ao ar livre,
experimentei uma aula outdoor training e gostei, mas sei que se tiver força de vontade
posso muito bem começar por caminhar e intercalar com uma corrida e não gasto um tostão
nisto!
Falta só arranjar a força de vontade para começar….custa só iniciar porque depois sei que vai ser bom!
Sempre gostei de fazer algum EXERCÍCIO, sentia-me sempre muito melhor mais feliz quando me mexia
e todos os anos mudava de EXERCÍCIO/aula porque sempre gostei de experimentar coisas novas.
às tarefas da casa concordo 100% contigo, para quê pagar a alguém que nos faça uma coisa que nós
conseguimos fazer? o ser humano ainda está longe de mudar a consciência mas há que ter esperança…
as coisas têm a importância que cada um lhes dá…
viver com muito menos…..não viver dentro da ilusão….
temos tudo o que precisamos
a vida é simples!
É verdade, Paula. <3 E força para começar, se ainda por cima gosta - ao contrário de mim - vai ser fácil! Beijinho
vou aproveitar o contacto! 🙂 também tenho imensa dificuldade em “Treinar”!bjo
Aproveita, sim. :))) Podes marcar uma aula experimental e ver se gostas dele e do tipo de aulas que dá. Beijinho!!
Sim Diana! Por favor, o nome do seu professor! Obrigada! Um dia vou consigo à índia! 😀
Olá Susana, aqui está o contacto: Dénis – 910007909 Um beijinho e espero que sim, que um dia venha connosco. 🙂
Adorei o post. ?
Podes dar mais informações sobre o local onde tens as aulas? Mil OBRIGADAs
Olá Renata, o espaço fica entre a entre a Câmara Municipal do Porto e o Metro da Trindade, é um estúdio pequeno / familiar. Podes entrar em contacto com o Dénis (910007909) e marcares uma aula experimental para ver se gostas e para saberes as condições consoante o que pretenderes (é uma espaço pequenino, só dele, mesmo informal). Um beijinho!