Está definitivamente – e cada vez mais – na moda uma alimentação e estilo de vida saudáveis. O que é bom, em teoria, mas que é mau, na prática. Isto porque é uma moda e quase tudo o que não passa de uma moda, não tem profundidade, nem é analisado por cada indivíduo, segundo a sua experiência e discernimento. Tudo o que é moda é, normalmente, seguido. Apenas seguido. Sem existir uma real compreensão, observação, análise, formação de juízo e tomada de consciência. E sem ser questionado.
Um dos grandes problemas, é que o que é hoje apontado como saudável, amanhã já não é bem assim. São publicados todos os dias estudos e artigos contraditórios entre si. Mais do que isso: o que é saudável para uns, não é para outros. É só ir ao feed de notícias do Facebook e começam aparecer milhares e milhares de publicações com estudos disto e estudos daquilo, notícias contraditórias, pessoas a afirmar que este ou aquele alimento faz bem a isto e àquilo, etc etcAcho até que um Ser Vivo com algum grau de consciência, que não da nossa espécie, tivesse acesso a isto, pensava que somos todos uma espécie de doidos (estou a imaginar um E.T a aterrar no nosso planeta e a pensar “mas que gente é esta que se contradiz minuto a minuto?!”)
Isto, aliado ao facto das marcas publicitarem produtos que não são saudáveis como o sendo – de forma mais ou menos explicita -, apenas com fins comerciais e aproveitando-se de tendências e estudos faccioso, é grave. Sempre foi assim nesta sociedade, mas não deixa de ser grave. Muita gente não tem acesso a mais, e se os meios de comunicação dizem, não questionam.
Já para não falar nas inúmeras dietas que surgem todos os dias. É a dieta paleolítica, a raw food, a dieta dos 22 dias de não sei o quê, a dieta do DNA, low-carb, dieta macrobiótica, dieta vegetariana, dieta das sopas, dieta disto e daquilo. Qual escolher? É um bicho de sete cabeças.
A somar, há empresas que comercializam dietas e suplementos com produtos adulterados e cheios de químicos e coisas esquisitas, ditas saudáveis. É só ler os rótulos para perceber que é impossível ser saudável.
Há ainda nutricionistas com opiniões completamente dispares entre si. A Drª X diz isto, mas o Dr. Y diz precisamente o oposto.
Para além disso, ainda há milhares e milhares de gente a mostrar o que come nas redes sociais e ainda por cima ondas conjuntas – são as papas de aveia com milhares de coisas que qualquer pessoa, aprofundando a questão, percebe que não pode ser saudável; é o óleo de coco (que falei ontem aqui, mas APENAS para uso cosmético, não para alimentação); são as panquecas e as tapiocas todos os dias; são os ovos cheios de hormonas diariamente, ao pequeno-almoço; são as proteínas extra; são os frutos secos em grandes quantidades; é o salmão e outros peixes de aquacultura; as carnes brancas de animais que foram criados à base de hormonas, antibióticos etc; são as frutas fora de época e não biológicas cheias de pesticidas e não adequados para o nosso clima; é o abacate que também não é adequado para o nosso clima e que está a provocar um grande impacto ambiental com a excessiva procura; é o queijo quark; são tantas, tantas coisas que era impossível mencionar todas. É até a hashtag #eucorroeuposso revela que não há uma real busca de informação, tem piada, claro, em ambiente digital, mas mostra uma sociedade bastante superficial.
Não posso também deixar de colocar aqui esta pergunta: as pessoas querem realmente ser saudáveis, ter uma vida plena de saúde, ou é a estética que fala mais alto? Não sei, mas parece-me que a moda da alimentação saudável está mais ligada com aparência do que com saúde, o que na verdade também justifica todas estas questões antagónicas.
Antes que seja crucificada virtualmente pela maioria das pessoas, esta é apenas uma reflexão pessoal, ok? Vale o que vale. Não estou a criticar ninguém porque sei que a maioria das pessoas tenta fazer o melhor que sabe. Existindo um culpado é sem dúvida para dúvidas o conjunto de interesses económicos que infelizmente estão por trás de tudo. Não passa disso. O que estou a tentar dizer é que o Ser Humano está cada vez mais superficial, mas que está sempre a tempo de uma busca mais profunda.
Mas chegando ao cerne da questão, há então afinal alguma forma de saber o que é ou não é saudável? Como é possível sobreviver a toda esta informação contraditória?
Pois… Eu não sei a fórmula mágica, nem a resposta sobre o que é saudável ou não é saudável. Tenho, sim, as minhas convicções, mas cada um deve encontrar as suas, questionando. Andarmos todos ao sabor da corrente é que não é de todo positivo. Eu tive a sorte de crescer numa família que tinha mudado de alimentação há algum tempo, seguindo a filosofia macrobiótica (não é uma dieta, é uma filosofia, para quem quiser aprofundar, que abrange todo o estilo de vida e que teve origem nos mosteiros budistas Zen, no Japão há muito, muito tempo, sem interesses económicos à mistura – não é uma moda, embora esteja na moda hoje em dia).
Independentemente de tudo, deixo aqui algumas dicas que penso que podem ajudar quem está em busca de uma vida mais equilibrada, a nível de alimentação:
- Basear a sua alimentação diária em produtos integrais (ou seja, no seu estado natural, antes de serem processados), tais como: cereais integrais, leguminosas, algas, legumes e frutas;
- Não consumir de forma regular produtos em embalagens com rótulos com mais do que o ingrediente principal;
- Consumir exclusivamente produtos biológicos (incluindo carne e peixe, se for o caso) e da época e local onde nos encontramos;
- Ler os rótulos e analisar cada componente;
- Não julgar a componente saudável de um prato, só pelos ingredientes ou aspecto (é saudável se os ingredientes forem de boa qualidade e origem);
- Cozinhar os alimentos com tampa fechada para não perderem nutrientes;
- Não utilizar micro-ondas, cozinhar em lume;
- Não usar muitos electrodomésticos eléctricos;
- Privilegiar materiais nos utensílios de cozinha que não libertem substancias nocivas (usar vidro, inox, ferro fundido);
- Aprofundar o estudo do tubo digestivo, estômago, intestinos e dentição das diferentes espécies para compreender quais as proporções mais adequadas de cada grupo de alimentos;
- Adaptar a alimentação ao verão e inverno, assim como às diferentes condições de saúde, idade, estilo de vida e sexo;
- Perceber o que os mais antigos comiam no clima onde moramos e o que usavam quando estavam doentes;
- Tentar saber mais sobre o impacto ambiental e humano das escolhas que fazemos em termos de produtos alimentares;
- Comer menos em vez de a mais;
- Estudar os alimentos, a nível de equilíbrio Yin / Yang;
- Observar os efeitos físicos e mentais dos alimentos. Ir experimentando e adequando.
Sobre a parte de comer menos em vez de a mais, ouvi uma explicação que adorei do Francisco Varatojo, numa palestra. Foi mais ou menos assim (com algumas partes, no final, acrescentadas por mim): Hoje em dia o Homem toma o pequeno-almoço como se fosse para a guerra ou para o campo (por exemplo ovos, sumos, panquecas, leite, fruta). A seguir levanta-se, toca no botão do elevador e desce para a garagem. Entra no carro, senta-se e conduz. A seguir, chega ao escritório, estaciona na garagem, carrega no botão do elevador e senta-se na secretária a teclar. Ao fim do dia, volta a fazer o processo inverso, vai para o ginásio, sobe de elevador, vai correr num tapete, fazer máquinas para definir os abdominais, pernas, glúteos, etc No final, desce de elevador, entra no carro, estaciona na garagem de casa, sobe de elevador e senta-se a vegetar no sofá, cansado, agarrado ao comando da televisão. Posto isto: precisamos realmente de tanta quantidade de comida diariamente? E faz algum sentido, a título de exemplo, pagar para nos fazerem as tarefas domésticas, quando depois voltamos a pagar num ginásio para exercitarmos o corpo?
E é isto.
Depois deste texto enorme, se ainda estiverem por aí, concordem ou não com o que escrevi, acho que vale a pena nem que seja alguns minutos de reflexão. 🙂
Esse texto me abriu a mentE
Concordo INTEIRAMENTE com tudo isto e adorei a parte do ginásio e da limpeza!
A alimentação é realmente mais cara mas tem essas vantagens que a Diana já descreveu, come-se menos fica-se mais saciada e diminui-se as quantidades, eu tenho vindo a tentar ser vegetariana o que nesta casa é um verdadeiro desafio, marido torce nariz e diz que sou maluca e filho diz eu gosto de carne!
por vezes faço 2 comidas e noto que se conseguisse que eles adoptassem esta filosofia de vida ia ser melhor em tudo e mais barato!
Nos homens é muito DIFÍCIL mudar HÁBITOS…
sinto-me mais saudável….não ando tantas vezes doente
falta-me iniciar a parte do biológico, vou tentar observar os preços ver os produtores e organizar-me…
gostaria de ter a permissão para colocar no face algumas partes deste texto referindo sempre que é do blog ilovebio…
já partilhei no face a tag do blog com o tema mas sei que se for por partes as pessoas tomam mais atenção….pequenos excertos (principalmente os meus que não gostam de ler)
obrigada pela partilha
tem me ajudado imenso este blog
Olá Paula,
pode partilhar à vontade. 🙂 O que escrevo é com a intenção de partilhar coisas boas / melhores, para que mais pessoas tenham acesso a informação útil.
Um beijinho grande
Obrigada diana!
Bom dia diana!!
ainda hoje tive uma conversa semelhante com uma amiga minha e estendi o tema ao uso desconectado das redes sociais e do facto de querermos estar sempre “online”.
queremos estar sempre presentes, atuais, no que quer que seja, então fazemos escolhas superficiais e isso abraça também inevitavelmente a alimentação.
o teu texto está fantástico e sabe mesmo bem ler, é quase como uma limpeza diária que todos DEVÍAMOS fazer. obrigada mais uma vez por esta partilha! não podia concordar mais.
desejo-te tudo de bom***
Concordo plenamente com o que escreveu!
não passa tudo de uma moda e depois CONSCIÊNCIA no que se faz e come é muito pouca ou nenhuma!
adorei LÊ-la!! 🙂
Obrigada. 🙂
Eu tento ter uma alimentação saudável e preocupo-me sobretudo com a origem daquilo que como.
Mas há uma coisa que me intriga, esta da modo do biológico ( que até eu já aderi) será que AQUILO QUE COMPRAMOS COMO SENDO BIOLÓGICO É SEGURAMENTE 100% BIOLÓGICO?rEFIRO-ME POR EXEMPLO A CEREAIS, FARINHAS, SEMENTES, IOGURTES, ETC…
tENHO ALGUMAS DÚVIDAS.
peço desculpa pelas MAIÚSCULAS no comentário acima.
Espero que o símbolo / certificado seja credível. 🙂 Tento comprar sempre nacional e especialmente da Próvida. que já me acompanha há MUITOS anos – desde sempre – e que considero que é uma empresa boa, não estão só pelo negócio, mas têm valores. Relativamente a frutas, legumes, etc pelo aspecto pelo menos acho que dá para ver mais-ou-menos. Compro directamente aos produtores e espero que seja bio. Se não for, fica na consciência de quem não foi correcto, na minha fica que tento procurar as melhores opções. :)) Mas é uma questão que certamente dá pano para mangas. Beijinho
sim, também escolho a marca próvida, porque realmente é aquela que tenho mais confiança, mas isto aplica-se aos cereais, leguminosas, farinhas, sementes.
Há outras coisas que compro de outras marcas e não sinto a mesma confiança.
A minha consciência fica tranquila, mas não me bastará isso se no futuro descobrir que sofro de alguma doença…
sem dúvida que este é assunto que dá pano para mangas. 😉
Muito bom. Poucas semanas atrás falei exatamente DESTa QUESTÃO. Muitos estão a “usar” ESTA “moda” unicamente para fazerem dinheiro, outros para serem MAGROS ENFIM tudo o que disseste.
Não há profunidade, nem EXPERIÊNCIA, nem estudo.
A maioria das pessoas que andam A divulgar o saudável, iniciou a mudança a muito pouco tempo. Não sendo isso um problema, mas AINDA não TêM maturidade sobre o assunto.
Outra coisa grave no meu ponto de VISTA, é a falta de qualidade nos restaurantes ditos vegetarianos, saudáveis, é enganar literalmente as pessoas.
Enfim vamos esperar que tudo corra BEM para TODOS.
Concordo, há muitos interesses comerciais no ‘saudável’ – que não é saudável – e não devia ser assim…
Tenho as mesmas dúvidas que descreveu. Tento fazer uma alimentação saudavel mas ando constantemente baralhada. Existem algumas verdades ABSolutas na alimentação, mas sao tao poucas:( e diga me se estou errada, mas alimentação biológica é certamente mais cara, assusto me cada vez q entro numa loja bio. La compro uma COIsa ou outra, mas é impossivel com 150 euros por mes destinados a alimentação conseguir ter uma alimentação biologica. Tem dicas? Ir a mercados locais? Como conseguir produtos biologicos sem gastar uma boa PARTE DO ordenado?
Olá Silvia!
Os produtos biológicos – quando comparados com produtos iguais, mas não biológicos – são realmente mais caros. Por exemplo uma mação não biológica é mais barata do que uma biológica.
No entanto, ao mudar para uma alimentação mais ‘real’ e com produtos integrais (deixando de comprar imensos produtos que estão presentes no nosso dia-a-dia e diminuindo as quantidades que ingere, nomeadamente a nível da quantidade de carne por exemplo, snacks, etc) não acho que fique mais caro. Isto se for uma alimentação baseada em cereais integrais, leguminosas, frutas e legumes. 🙂
De qualquer forma, mesmo assim, acho que 150€ pode ser pouco para 1 mês inteiro com produtos de qualidade. Fiz há algum tempo um desafio com 150€ para duas pessoas a NIT, mas foi para 21 dias e tive de andar a contar o dinheiro. Com 50€ por semana, acho consegue perfeitamente alimentar 2 pessoas, ou seja cerca de 200€ por mês. Se for só para 1 pessoa, 150€ chegam, bem planeados. 🙂
Relativamente aos locais de compra, eu vivo no Porto e compro por exemplo os legumes e furtas no Mercado de Matosinhos – é directamente ao produtor, os legumes e frutas são mais frescos e é muito mais barato. Na localidade onde vive, procure produtores locais. Quando vivia em Lisboa, ia muito à Miosótis que é o que tem melhor relação qualidade-preço-diversidade.
Outra dica é analisar as lojas que tem disponíveis na sua zona e comparar os preços dos produtos (há coisas que são mais baratas numa loja e outras noutra, vale a pena ir a 2 ou 3 sítios diferentes).
Espero ter ajudado! Qualquer coisa, diga-me. 🙂
Bjs
Olá diana, obrigada pela resposta detalhada! Vivo na zona de lisboa, e hei de ir à miosotis… os 150 seriam apenas para uma pessoa. Beijos