São Miguel em 4 dias

Como partilhei por aqui, estive a passar alguns dias [maravilhosos] em São Miguel. Já tinha estado nesta, que é a maior das ilhas do arquipélago dos Açores, mas não tinha visitado nem metade (não aluguei carro da primeira vez, o que é indispensável para conhecer bem a ilha).

São Miguel é uma imensidão incrível de verde (parece até que o verde é mais verde por lá). Vale mesmo a pena visitar. Desta vez, e graças à ajuda de algumas dicas que me deram no Facebook, encontrei vários restaurantes com opções vegetarianas – o que costuma sempre ser uma grande dificuldade. 

Para quem estiver interessado em visitar São Miguel, aqui ficam as minhas recomendações. Pesquisei bastante online antes de ir e graças também às sugestões de três amigas, fui com o trabalho de casa todo feito, o que me permitiu desfrutar plenamente destes 4 dias (que na verdade foram 6, por causa das viagens).

Voos

Do Porto há voos para Ponta Delgada desde 65€ (ida e volta) e de Lisboa desde 58€ (ida e volta). Tanto a Tap, como a Ryanair e a Sata têm óptimos preços. Costumo usar o SkyScanner para pesquisar viagens e é o melhor: dá para ver as datas mais baratas por mês ou até por ano, pesquisar multi-destinos,etc

Alojamento

Ultimamente tenho usado sempre o Airbnb e tem corrido tudo super bem. Não são só apartamentos e quartos de particulares, há vários outros trípode de alojamento – incluindo chalets, hotéis, etc – com anúncios no Airbnb. Desta vez fiquei em Água de Pau, num apartamento com quarto, cozinha kitchnet e casa-de-banho, na Casa Caloura (aqui). Os preços por dia começam nos 29€, dependendo da altura do ano – eu paguei 35€ por noite. É super limpo e muito bem localizado (no centro da ilha, mesmo perto do mar e a 15 minutos de Ponta Delgada, para mim fica na melhor localização possível). O Sr. Hélder, proprietário do apartamento, foi incrível, super simpático (mas daquela simpatia boa, genuína) e disponível (até nos convidou para a festa de aniversário dele). Da primeira vez tinha ficado mesmo ao pé da lagoa das Furnas, numa casa fantástica, mas muito mais cara. Por ser numa ponta da ilha, não considero tão interessante. O ideal é a zona do meio, não muito longe de Ponta Delgada.

Carro

É indispensável alugar carro para se conhecer bem a ilha. Da primeira vez andei a pé, de bicicleta e uma ou outra vez de autocarro, foi tranquilo, mas não deu para ver nem 1/3. São Miguel não tem transportes públicos suficientes e de táxi fica caríssimo ir a qualquer lado. A empresa mais barata de rent-a-car que encontrei foi a Ilha Verde Rent-a-Car e correu tudo lindamente. Aluguei no site Rental Cars, onde é possível conseguir por vezes preços até mais baixos do que directamente com as empresas de aluguer. O carro ficou a 22€ por dia (o de gama mais baixa, que serve perfeitamente, e a gasolina). A diferença de preço para um carro a gasóleo não compensava no meu caso (fiz as contas).

App’s

Três aplicações indispensáveis para descarregar e usar nos Açores são a SpotAzores (onde é possível ver, em tempo real, em câmaras, como está o tempo em todas as partes da ilha, o que é óptimo porque isso permite definir a zona para onde vamos diariamente), a Walk Me (com trilhas) e a Navmii (GPS que não gasta dados móveis, por vezes não há rede e a Navmii funciona na mesma por satélite).

Na mala

É imprescindível levar uma lanterna, alguns fatos de banho / biquínis (um, pelo menos, mais velho para algumas águas que mancham e alargam os elásticos pelas temperaturas altas, como no Parque Terra Nostra, na Poça Dona Beija e na Caldeira Velha), havaianas, toalhas de cor escura*, botas de caminhada ou ténis, mochila pequena para os trilhos e capa para a chuva (no mesmo dia pode tanto fazer sol num momento, como chover no minuto a seguir). * Em alguns locais, como a Poça Dona Beija e nas Termas da Ferraria, há toalhas e até robes turcos para aluguar.

Restaurantes vegetarianos

Convém marcar mesa em todos estes restaurantes, por incrível que pareça estavam sempre cheios e fui em época baixa (excepto o Eco Resort Santa Bárbara que tinha pouca gente). O cozido vegetariano, é necessário reservar com um mínimo de 24 horas de antecedência.

• Quinta dos Sabores (com opções vegetarianas, se reservado 24 horas antes) – Rabo de Peixe
• Eco Resort Santa Bárbara (com opções vegetarianas e sushi vegetariano a pedido) – Ribeira Grande
• Rotas da Ilha Verde (único completamente vegetariano) – Ponta Delgada
• Casa da Rosa (com opções vegetarianas) – Ponta Delgada
• Louvre Michalense (com opções vegetarianas) – Ponta Delgada
• Hotel Terra Nostra (para o cozido das furnas vegetariano, reserva 24 horas antes) – Furnas
• Forneria São Dinis (pizzaria com algumas opções) – Ponta Delgada

A única comida vegetariana que gostei realmente foi o cozido das furnas no Hotel Terra Nostra, que fica no parque com o mesmo nome. Não é barato (só o cozido para uma pessoa custa 16€, embora o normal seja bem mais caro) e é um pouco fancy. Pelo menos para mim que prefiro ambientes mais genuínos. Mas o cozido é delicioso. Os legumes são muito saborosos e vêm servidos com couscous e grão-de-bico. Por mim tinha comido o cozido das furnas todos os dias. Nos outros espaços onde fui, a comida é boa, mas não é saudável como seria o ideal. Na Casa da Rosa, por exemplo, as opções vegetarianas são Hambúrguer com Batatas Fritas, Lasanha e uma Salada composta e não tem sopa. Não gostei muito. No Rotas da Ilha Verde quase todos os pratos têm queijo, embora o espaço seja muito simpático e a comida saborosa. No Eco Resort Santa Bárbara – embora também seja fancy -, o sushi vegetariano é realmente muito bom (não está na carta, mas fazem a pedido) e a sopa também estava saborosa. A entrada e o prato vegetariano não estavam disponíveis no momento. No Louvre Michalense só bebi chá e comi umas bolachas de aveia (muito boas e o espaço é lindo). Fui lá a um domingo na tentativa de provar as empadas vegetarianas que uma amiga me tinha recomendado, mas ao domingo não estão disponíveis. À Forneria São Dinis fui buscar uma pizza para comer em casa. Tinha tudo para correr bem – pizzas feitas em forno a lenha, massa fininha, um cheirinho delicioso no restaurante-, mas… enganaram-se e a Pizza tinha sardinhas, só reparámos já em casa. Os outros restaurantes não experimentei. A minha recomendação vai sem dúvida para o cozido vegetariano das furnas que é 5 estrelas (não deixem de provar). Pelas 12h30 vai-se ver tirarem o cozido das furnas da terra, a entrada custa 0,50€ de carro. Quem quiser pode levar de casa o tacho pronto com o seu próprio cozido e deixar lá a fazer (custa 3€). Uma boa opção para refeições mais saudáveis é levar algumas coisas de cá (cereais e leguminosas), comprar legumes e frutas em São Miguel e cozinhar em casa, pelo menos algumas refeições.

Roteiro – Dia 1 (Lagoa do Fogo)

• Ir de carro ao Miradouro da Serra da Barrosa, que fica no conselho de Vila Franca do Campo. As vistas para a Lagoa do Fogo são incríveis. Se estiver muito nevoeiro, mais vale deixar para outro dia porque não se vê nada.
• Descer a pé para a Lagoa do Fogo (2 km até à lagoa), por uma trilha que considero difícil, cerca de 1 hora ir e vir, mas vale a pena.
• Depois, descer de carro para a Caldeira Velha, 5 Km a baixo (pelo caminho encontram-se vários outros miradouros).
• A Caldeira Velha (entrada 2€ para adultos, 4€ para famílias e 1€ para crianças) é um monumento natural que faz parte da Reserva da Biosfera. Tem imensa vegetação exótica, uma poça de água quente e uma cascata também quente para banhos termais (castanhas, devido ao ferro). É um cenário que poderia ser paradisíaco, mas é pouco selvagem e com muita gente. A Caldeira está localizada na cratera do Vulcão do Fogo, tem fumarolas e uma nascente de água termal. Tem chuveiros de água fria e vestiários, para quem quiser experimentar as poças.
• Fazer a Trilha Janela do Inferno, uma pequena rota circular tem início no parque de merendas do lugar dos Remédios. O percurso tem vários túneis, por isso o ideal é levar lanterna.
• Visitar a Plantação dos Ananases A. Arruda (Fica na Feijã de Baixo e é gratuito). Não achei que valesse a pena a visita, são estufas e uma lojinha de produtos à base de ananás.
• Regressar à Praia da Caloura (apenas porque o apartamento onde fiquei, era a 2 minutos daqui).

Roteiro – Dia 2 (Furnas)

• Ir de carro pela costa sul para a Lagoa das Furnas e parar o carro no lado das fumarolas – 0,50€ – para fazer o trilho à volta da lagoa, que demora cerca de 2h00 / 2h30.
• No lado sul da lagoa, a meio da trilha, a rodear a Ermida de Nossa Senhora das Vitórias, aparece a Mata Jardim José do Canto (vale a pena a visita, a visita custa 2€).
• Pelas 12h30 vale a pena estar novamente nas fumarolas para ver tirar o cozido. As panelas são colocadas pelas 6h da manhã nas caldeiras, pelos restaurantes e particulares, e ficam a cozinhar até ao meio dia. Qualquer pessoa pode cozinhar aqui, desde que leve, claro, a panela com o cozido de casa. O custo para cozinhar nas caldeiras são 3€. A caldeira tem de ser fechada com uma tampa de madeira, coberta com terra e não pode ser aberta até o cozido estar pronto. O cozido vegetariano demora cerca de 5 horas (menos 1h30 do que o de carne).
• Ir de seguida de carro para o Hotel Terra Nostra, para almoçar o Cozido das Furnas (16€, o vegetariano). O almoço dá direito a entrada no Parque Terra Nostra sem custos (o bilhete custa 6€). Logo à entrada tem um tanque de água termal onde se pode tomar banho. A água é quente e alaranjada (não se vê o fundo) e está a 35 / 40 graus, o provoca uma sensação de relaxamento maravilhosa. A água está carregada de minerais essenciais. Existem outras duas piscinas pequenas e o parque tem balneários disponíveis.
• Ir de carro ao Miradouro do Pico do Ferro com vistas sobre a Lagoa das Furnas.
• Passar pelo Miradouro Saldo do Cavalo, a 760 metros de altitude, onde se vê uma vasta vista sobre o vale da Povoação e as suas sete lombas. Ao fundo, até ao horizonte, surge o mar.
• Ir até à Praia da Ribeira Quente, onde a existência de nascentes hidrotermais submarinas tornam a água do mar quente.
• Regressar pela costa norte.

Roteiro – Dia 3 (Sete Cidades)

• Ir até à lagoa do Canário pela estrada que vai para Sete Cidades, mas que passa na Covoada. Do lado esquerdo vai aparecer uma entrada para a Lagoa do Canário e para a Mata do Canário, que mais parece um portão de uma quinta. É preciso estar atento, quando aparecer uma espécie de parque de estacionamento do lado esquerdo, é aí, do lado direito. Esta foi a minha lagoa favorita, talvez por ser mais selvagem e diferente das outras. Ao fundo da mata tem o Miradouro da Boca do Inferno, o miradouro mais incrível de São Miguel (a vista é a da primeira fotografia deste post, que é daqui).
• Depois continuar até ao Miradouro Vista do Rei, que tem vista sobre a Lagoa das Sete Cidades. Uma das lagoas é azul e outra verde e é possível notar claramente esse contraste.
• Ao lado do Miradouro há um hotel abandonado, o Hotel Monte Palace. Já tinha lido aqui a história deste hotel e estava muito curiosa em visitar. É arrepiante. Os edifícios abandonados parecem ter ainda mais vida do que os outros, mais não seja, muitas histórias para contar… Dá para entrar e visitar, não tem segurança nem vedação, está simplesmente abandonado.
• Descer para a Lagoa das Sete Cidades de carro, parar o carro e contornar a lagoa azul (a maior) a pé. Se houver merenda, fazer um piquenique na beira da lagoa.
• Seguir para Mosteiros, onde há piscinas naturais. O mar tem partes com um azul incrível que contrasta com o preto das rochas e branco da espuma das ondas.
• Passar algumas horas nas Termas da Ferraria, um SPA Termal com várias piscinas – uma delas ao ar livre, em cima do mar -, jacuzi, massagens, banho turco,…
• Continuar a pé até à Praia das Termas da Ferraria que tem uma piscina natural no mar, quente, com água cristalina.
• Partir para Ponta Delgada, que é uma cidade bonita e cuidada. O Louvre Michalense vale a pena visitar, para um chá ao final do dia.

Roteiro – Dia 4 (Salto do Prego e Poça da Dona Beija)

• Ir em direcção a Salto do Prego para fazer o Trilho do Salto do Prego (4,5 Km). É um trilho fantástico, foi o que mais gostei em São Miguel. Demora cerca de 2h00, a meio tem uma cascata linda – mas fria – onde é possível tomar banho. Termina na Aldeia do Sanguinho, uma aldeia em (re)construção que parece saída de um conto de fadas. Aqui é possível saber mais sobre este trilho.
• Descrer para a Vila Salto do Prego, uma vila super tranquila e bonita.
• Seguir de carro para o Jardim do Miradouro Ponta do Sossego, com vista sobre o oceano. É um jardim enorme, muito bem cuidado, em sucalcos.
• Continuar para o Farol do Arnel, no extremo nordeste da Ilha. Deixar o carro no parque de estacionamento e descer a pé.
• Regressar pela costa norte até à Poça da Dona Beija para terminar o dia (fica a 30 minutos do farol e custa 4€ por pessoa). Está aberta até às 23h, tem vários tanques de água férrea cristalina e vale a pena ir ao final do dia ou à noite. Embora seja artificial e tenha muita gente, é diferente do que estamos habituados e dá para relaxar nas águas termais quentes envoltas pela natureza.

Podem ver estas e outras fotografias no meu Instagram, incluindo do Cozido das Furnas Vegetariano.

Deixem aqui nos vossos comentários e outras sugestões. Se estiverem indecisos, vão! São Miguel vale mesmo, mesmo a pena. E se quiserem ir a outra ilha, há boas notícias: Existe o encaminhamento inter-ilhas da  Sata. Ou seja, podem viajar gratuitamente de Ponta Delgada (ou Terceira) para outras ilhas. Aqui está tudo explicado.